O virtual e a experiência estética - tema de comunicação (Congresso da SPF na UBI)
No passado dia 07 de setembro tive a
honra de participar no 3º Congresso Internacional de Filosofia, organizado pela
Sociedade Portuguesa de Filosofia (SPF), realizado na prestigiada Universidade
da Beira Interior (UBI), na Covilhã. Mais concretamente, moderei a Sessão
temática Fenomenologia e
Epistemologia V,
participei na Mesa-Debate: Atualidade
e Futuro da investigação em Filosofia em Portugal, com os representantes
dos Centros de Investigação Filosófica Portugueses. E apresentei a comunicação
intitulada: O virtual como categoria da
experiência estética, à qual se seguiu, como é habitual, um momento de
questionamento e de diálogo com a assistência, dele resultando um
enriquecimento pessoal, a nível de ideias e de perspetivas de aprofundamento do
assunto em investigação.
Quero expressar, naturalmente, a minha
gratidão pela oportunidade de integrar este evento científico, ocorrido na
Universidade da nossa Cidade.
Pelo que pude observar, foi um
Congresso de grande impacto para o reforço da afirmação e da presença da Filosofia
no nosso meio cultural e especificamente na Universidade da Beira Interior. A
dimensão nacional e internacional deste Congresso, bem como o facto de ter acolhido
comunicações em todas as áreas significativas dos estudos filosóficos, garantirão
a este Congresso um lugar privilegiado no conjunto dos eventos filosóficos
realizados no nosso País.
Estão, pois, de parabéns, as entidades
organizadoras deste Congresso, excelentemente representadas pelos Professores
André Barata (UBI, Coordenador) e José Meirinhos (Presidente da Direção da SPF).
Não posso deixar de realçar aquele
traço afável e singelo que distingue o modus
faciendi do acolhimento beirão, tão elegantemente espraiado em toda a
organização-UBI.
Para as pessoas interessadas no tema
que apresentei, aqui fica o Resumo.
O
virtual como categoria da experiência estética Um dos aspetos que consideramos
verdadeiramente marcantes da estética filosófica de Mikel Dufrenne é a sua
elaboração de uma teoria pioneira sobre a categoria do virtual, nomeadamente a análise das suas incidências
fenomenológicas na perceção estética e na constituição do objeto estético. A
sua sistematização inicia-se com Phénoménologie
de l’Expérience Esthétique (1953), percorrendo todos os seus trabalhos
publicados ao longo da segunda metade do séc. XX, até L'oeil et l’oreille (1987), sua última obra onde a categoria do
virtual ocupa um lugar de destaque.
À
distância de pouco mais de vinte anos do seu falecimento (1910-1995), é
oportuno iniciar uma avaliação crítica do alcance do contributo deste autor para
o tema em análise, pelo menos sob dois ângulos de perspetiva que consideramos
prioritários. Em primeiro lugar, quanto à competência e adequação do
manuseamento da fenomenologia como teoria integrativa da categoria do virtual
no fenómeno estético. Em segundo lugar, quanto à perspicácia de, como que
premonitoriamente, Mikel Dufrenne ter antecipado um instrumento de análise das
artes que, desde o último quartel do século passado, se vêm desenvolvendo
precisamente sob a égide da categoria do virtual; se fosse necessário
justificar a atualidade do tema, bastaria notar a importância da noção de
virtual, não apenas na ciência e na técnica, mas no espaço social,
comunicacional, estético e afetivo. Em pouco tempo, instalámo-nos na cultura do
virtual, que investe e condiciona positiva e negativamente a experiência vivida
e a própria constituição dos objetos.
O
que hoje se passa no campo da criação artística, na produção e consumo de
imagens digitais e de formas virtuais confere à estética um lugar privilegiado
para observar, compreender e avaliar a relação do virtual com a realidade, e
mais globalmente, a virtualização do mundo. No fundo, a pergunta pela realidade
é sempre a que mais nos incomoda, pois é cada vez menos precisa e nítida a
moldura disso a que chamamos “real”, o seu contorno, a sua identidade, a sua
natureza, a sua afinidade. É muito sintomático que passe a ser mais convidativa
a experiência imersiva na realidade virtual do que a contemplação da natureza!
Mikel
Dufrenne pressentiu, com muita acuidade, que o problema do “novo” virtual
exigia transvasar a doutrina filosófica, clássica, da dualidade «potência|acto».
É
em ordem a esta tarefa de avaliação crítica, centrada nos dois objetivos
enunciados que planeamos a nossa comunicação.
In: Programa
e Livro de Resumos, [3º Congresso Internacional de Filosofia, SPF], UBI:
Covilhã, pp. 58-59. URL: https://www.spfil.pt/files/files/programa_resumos_3cispf.pdf
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