sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Uma exposição sobre o tema da exposição: "O que é uma exposição?"

REPOSIÇÃO DE NOTÍCIA


Notícia sobre a exposição dedicada ao tema "O que é uma exposição?", que esteve patente na Faculdade de Filosofia em junho de 2007.

No átrio da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica/Braga está patente uma exposição sobre o tema "O que é uma exposição", organizada por Flora Oliveira, aluna do Curso de Estudos Artísticos e Culturais, planeada e realizada no âmbito da componente prática da Unidade Curricular designada Seminário em "Empreendedorismo e actividades no sector artístico e cultural".

Tendo investigado a temática da "exposição" como linguagem e meio de comunicação, na linha do trabalho desenvolvido por Ángela García Blanco, a aluna apresenta, de uma maneira bastante didáctica, os diferentes tipos de exposições: permanente, itinerante, temporária, móvel e portátil, bem como os exemplos de conteúdos expositivos: arte, antropologia, ciências, história e tecnologia... São também abordadas formas de circulação, de desenho e montagem de uma exposição, os métodos de iluminação e os dispositivos de apoio e de suporte. Toda esta informação está adequadamente documentada com imagens.
Convidam-se os agentes culturais, os profissionais da área da cultura, bem como todos os interessados a visitar esta original exposição.

(Notícia publicada anteriormente no endereço http://www.eacfacfil.net/?p=4932, em 08 de jullho de 2014; publicação original em 25 de Junho de 2007)

domingo, 7 de janeiro de 2018

Deuses e deusas da mitologia grega

REPOSIÇÃO DE TRABALHO

Texto de Samuel F. Beirão, aluno do 1º ano da Licenciatura em Filosofia. Realizado no âmbito da Unidade Curricular de Filosofia Antiga, a propósito do documentário “Os deuses e deusas da mitologia grega”, de Bram Rosse (material didático do Capítulo: Condições favoráveis ao aparecimento da Filosofia na Grécia"). 

Universidade Católica – Braga, 10.12.2009

A análise a este documentário vem no seguimento do estudo dos pré-socráticos, na disciplina de História
Os Doze Deuses Olímpicos
             Nicolas-André Monsiau,finais do séc. XVIII
da Filosofia Antiga. Este documentário pode dividir-se em duas partes: a religião grega e as suas repercussões no mundo romano e no cristianismo.
Antes de tudo, as Graças deram a beleza ao homem e as Musas as suas características. As Musas, filhas de Zeus e Mnemósine e habitantes de Olimpo, aparecem pela primeira vez no “Hino às Musas”, da Teogonia, de Hesíodo (1-115). São nove: a mais velha, Calíope, Clio, Euterpe, Talia, Melpómene, Terpsícore, Erato, Polímnia, Urânia. . Calíope sempre foi tida como a mais notável, a companheira dos reis, a que inspirava na administração da justiça. Às outras, pela sua fama de inspiradoras, foram-lhes atribuídas as artes, na época romana tardia. Assim, Calíope ficou com a Épica heróica; Clio, com a História; Euterpe, com a Música; a Comédia foi dada a Talia; a Tragédia, a Melpómene que, subsidiariamente, era a Musa do Canto e da Música; a Dança era a arte de Terpsícore; a Poesia Lírica, de Erato; a Mímica pertencia a Polimnia; e a Astronomia, a Urânia.
Os gregos tinham muito orgulho na forma humana, por isso atribuíram-na também aos deuses. Os deuses faziam o que lhes apetecia, eram superiores, mas estavam sujeitos às mesmas paixões, falhas e fraquezas que os homens. E estes tinham de refrear os seus apetites, por temor aos deuses, que não eram perfeitos, mas poderosos. Aliás, os homens criticavam os deuses.
Como vemos, o homem grego teve necessidade de criar estas entidades superiores para reger as suas relações sociais, a quem agradecer os seus dons e a quem atribuir as culpas dos seus males.
As Cidades-Estado gregas eram autónomas, embora tivessem língua, cultura e comércio comuns. Isto possibilitou que existissem deuses comuns a todas as Cidades e deuses privados. Temos Atena, Zeus, Hermes, Hera, Eros, Efesto, Poseidon, Pan, Artémis, Demeter e tantos outros, cada um com as suas características, as suas histórias, os seus poderes e vinganças. Até havia um altar para venerar o deus desconhecido, não fossem os gregos esquecer-se de algum, que os podia castigar, por não ser adorado. Os Jogos Olímpicos eram uma forma de celebrar e honrar os deuses, oferecendo-lhes os atletas o seu gasto de energia, o seu suor, as suas vitórias.
É neste contexto que a filosofia e o mundo intelectual encontram condições para florescer, em Atenas e por toda a Grécia: os gregos racionalizavam tudo.
Começam a questionar-se sobre a sua existência, a causa, a origem: para Tales de Mileto, a origem de tudo está na água: “todas as coisas estão cheias de deuses”, diz. Para ele, a água é o deus supremo.
Dois contemporâneos seus encontram outras primeiras causas para tudo o que existe: para Anaximandro, o primeiro princípio de tudo é o Indeterminado; para Anaxímenes, é o ar infinito.
Mas nestes Autores ainda não encontramos o conceito de deuses como o conhecemos; para eles, deuses são dotados de uma energia física, intelectual e afectiva bem à maneira natural e antropológica. Não pensam os deuses como hoje pensamos Deus, o Criador de todas as coisas, inclusive do homem. Ainda que os deuses sejam mais poderosos, homens e deuses concorrem. E misturam-se.
O documentário põe em evidência o lugar sagrado de Delfos. Em Delfos, vivia a sacerdotisa Pitia. Neste oráculo, podia perscrutar-se o futuro. Governavam Delfos Apolo e Dionisos. Apolo é a símbolo da ordem pública, da razão. Dionisos, por seu turno, simboliza a desordem, a vitalidade, a bebedeira, o excesso. Esta dicotomia foi sempre tão forte e influente que atravessou a História até Nietzsche, que n’O Nascimento da Tragédia opõe o espírito apolíneo ao espírito dionisíaco, a arte do escultor e a arte da música isenta de imagens; o sonho e o êxtase.
Além dos deuses do Olimpo, os gregos admitiam também as divindades do mundo subterrâneo, habitado por existências sombrias, onde não havia vida consciente. O seu lugar terrível estava identificado como o Hades.
Para os gregos, é claríssima a distinção entre o corpo e a alma. Vejamos o que Platão põe na boca de Sócrates, no diálogo Fedro: “O ser vivo e mortal é o conjunto do corpo e da alma, solidamente ajustados um ao outro (…) Deus é um ser vivo imortal que possui uma alma, que também possui um corpo, ambos unificados para uma duração eterna” (246c).
A alma – psique (respirar) – do recém-morto há-de atravessar o Rio Aqueronte, levada por Caronte, até ao Hades. A morte é a eternidade de sonhos vazios. Existem dois níveis, no Hades: o Erebus, para onde as almas vão logo a seguir à morte, e o Tartarus, para onde vão as almas que ofenderam os deuses.
Foram os homens gregos que criaram esta religião olímpica, por precisarem de uma alteridade a quem entregassem o poder, a fim de serem regidos desde cima e, não, uns pelos outros. E, agora, tudo lhes chega desde o exterior, provindo dos apetites, dos sentimentos e das paixões dos seus deuses. Assim era o mundo religioso grego.
A segunda parte do documentário fala-nos da incidência da religião grega nos romanos e no cristianismo.
Os romanos descobriram a religião grega no séc.III a. C. e sobrevalorizaram-na: atribuíram nomes romanos aos deuses gregos e deram-lhes um estatuto ainda mais elevado.
Com a extensão do Império até à Judeia, é normal que o cristianismo beba das culturas grega e romana. Em especial, o Apóstolo Paulo, cidadão romano, que viaja pelo Império Romano e pelas ilhas gregas. Chega a falar no Areópago acerca do verdadeiro Deus, Criador de todas as coisas e perto de cada um dos homens (Act 17, 22-27). Esta é uma novidade: um Deus único.
Os alicerces gregos ajudaram à propagação do cristianismo, ainda que não tenham relação directa. Podemos notá-lo nestes três exemplos:
1) Jesus, Filho de Deus, nascido de uma mortal (como os heróis gregos).
2) O conceito de pecado derivado do termo grego amarthia, falhar o alvo.
3) A moralidade pessoal, questão abordada já nos mitos gregos.
Todos estes elementos mostram que a religiosidade grega e a problemática em seu torno é uma questão actual, atravessou milénios
Terminamos com a última ideia do documentário: há uma força enorme que controla os humanos. Temos de a respeitar. A consciência da existência desta força e as perguntas sem resposta fizeram as questões gregas chegarem até hoje.

Bibliografia:

·  Bíblia Sagrada, Actos dos Apóstolos, 17, 22-27.
·  Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia,Verbo: Platão. 
·  Gauchet, M. - “A dívida do sentido e as raízes do Estado. Política da Religião Primitiva” in AAVV, Guerra, Religião, Poder, Lisboa: Ed. 70, 1980, p. 51-88.
·  Gilson, E. – Deus e a Filosofia, trad. de Aida Macedo. Lisboa: Ed. 70, 1941.
·  Nietzsche, F. – Nascimento da Tragédia, Trad. de Helga Hoock Quadrado. Lisboa: Relógio d’Água Editores, Junho de 1997.
·  Platão – Fedro. Trad. de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães e C.ª Editores, 1981. 


(Este trabalho esteve anteriormente publicado no endereço: http://www.eacfacfil.net/?m=201506, em 30.06.2015)

sábado, 6 de janeiro de 2018

Conceitos Estéticos // "Da Radicalidade da Experiência Estética"

Acaba de ser publicada (dezembro/2017) a obra “CONCEITOS ESTÉTICOS / CONCEPTOS
ESTÉTICOS”, resultante do II Encontro Ibérico de Estética, organizada pelos professores María José Alcaraz Léon e Vítor Moura, publicada pela Editora Húmus. 
Os Conceitos estéticos, bem como os diferentes problemas relacionados com a natureza da arte desenvolvidos pelos diversos autores estão agrupados em quatro secções: 
- O que é a arte?
- Arte Contemporânea e experiência estética;
- Sujeito da apreciação e sensibilização estética;
- Tempo e memória através da arte.
Tive a honra de colaborar nesta Obra com o estudo intitulado “Da radicalidade da experiência estética” cujo Resumo transcrevo

Este trabalho tem como objetivo relançar o questionamento da experiência estética no seu horizonte de radicalidade. Pretende problematizá-la desde o seu referencial empírico até à inquirição do seu fundamento, legitimando a possibilidade de um “limiar” de transcendência, ou seja, de abertura ao absoluto, a uma “ultimidade” de sentido, ao Ser, arrimada numa verdadeira âncora ontológica e metafísica. A instrumentação metodológica que sustenta a análise e a argumentação pertence à fenomenologia existencial, enquanto articulada com o pensamento hermenêutico e a reflexão ontológica. Pensamos que este aprofundamento se justifica totalmente. É mesmo uma tarefa inadiável trazer de volta ao debate filosófico uma conceção fundacio­nal da experiência da arte e da vivência da beleza, tendo presente o contexto civilizacional no qual estamos mergulhados, enclausurado num relativismo neo-sofistico que invade e mina os alicerces da arte, os critérios do gosto, a essência da beleza, o ideal da formação estética.
Porém, se procuramos abrir uma brecha que nos permita refazer uma noção de experiência estética que tenha condições de progressão desde a feno­menologia para a ontologia e para a metafísica, fazemo-lo na plena preocu­pação de evitar a queda no esquema desgastado de pensar “a partir de cima”. Por isso compreende-se que esta reflexão se nutra do conceito de aisthêsis. A renovação deste conceito, forjado pelos gregos, oferece amplas perspetivas de resposta à estética idealista e normativa que a tradição nos legou, ao mesmo tempo que nos situa perante o fenómeno matricial do qual o pensamento de determinados autores, entre os quais pontua Mikel Dufrenne, jamais se afas­tará – o fenómeno do sentir. Pensar o sentir como fenómeno estético – como experiência estética – significa certamente conetá-lo com os objetos onde ela melhor de concretiza, chamemos-lhes, objetos belos, ou artísticos. Mas significa sobretudo, auscultar a instância, o solo no qual essa experiência lança as suas raízes, e que exigirá a dimensão ontológica e metafísica do “vivido”. “Vivido” que se caracteriza por uma dimensão de abertura que acompanha todas as fases da sua “experienciação”, tornando-a irredutível a qualquer categoria ou parâmetro de análise positivista. Este aspeto é, para nós, a prova de que só a chave interpretativa ontológica e metafísica responde em definitivo, filosofica­mente, ao sentido vivido no interior da experiência estética. É nessa linha que nos propomos, também, construir uma hipótese de leitura do pensamento de Mikel Dufrenne, cuja Obra aqui nos acompanha, ainda que submetendo-a a uma interpretação crítica.
Lancemos, pois, esta arriscada convicção: estamos persuadidos de que a mais decisiva significação para a qual aponta uma sólida estética fenomeno­lógica que pense a experiência da arte e da beleza, já não é a que determina o sentido do Ser através da Natureza, ou do Signo, ou da Linguagem, ou do Desejo, ou do Inconsciente, ou da Estrutura, mas a que projeta ou perspetiva um fundamento ontológico para a própria ideia de Natureza, de Signo, de Linguagem, de Desejo, de Inconsciente, de Estrutura através do Ser: o sentido em cujo desvendamento a estética fenomenológica participa é, em última instância, o sentido do Ser. É na posse da intuição deste “sentido ou direção” que havemos de encontrar a bússola orientadora tão necessária nos labirintos da cultura estética e artística de hoje.

> O índice dos artigos desta obra pode ser consultado aqui.