sexta-feira, 4 de julho de 2025

Cultura, inclusão e integração

No âmbito da Fundação Bracara Augusta tive a grata oportunidade de participar no desenvolvimento do projeto, preparação da candidatura e como investigador no projeto “ISA CULTURE: INTELLECTUALLY AND SOCIALLY ACCESSIBLE - On the way to equality: culture as a tool for social inclusion and labour integration”, liderado pela Fundação Bracara Augusta, no âmbito de uma candidatura aprovada ao programa Erasmus + da Ação-Chave 2 – Parcerias de cooperação na juventude. O valor global de financiamento do projeto foi de 120.000,00€ iniciado em maio de 2023. A rede internacional integrou, além da Fundação Bracara Augusta, em Portugal, a Universidade Católica e CERCI; a Universidade de Burgus em Espanha e a Associação RISA na Eslovênia.

O objeto principal do projeto centrou-se na promoção do acesso à cultura para pessoas social e intelectualmente excluídas. Um projeto abrangente que compreendeu a investigação das causas da exclusão cultural e trabalhou para ajudar a superar este problema social que é transversal à Europa. A Cultura foi valorizada pelo seu papel determinante na reinserção de públicos social e intelectualmente desfavorecidos na sociedade. O debate da acessibilidade à cultura e ao património não é uma questão que deva ser centrada exclusivamente na acessibilidade física. No acesso à cultura deve ser considerada a dimensão física, intelectual e social de modo a incluir todos. A acessibilidade  física é apenas uma das barreiras que atualmente impedem o franco acesso à cultura.

Algumas das principais atividades discutidas e trabalhadas durante o projeto, visaram:
a) Desenvolver redes com stakeholders relevantes para discutir a inclusão cultural de pessoas marginalizadas – causas e soluções – troca de boas práticas;
b) Desenvolver um percurso formativo e implementá-lo com jovens (13-30 anos) social e intelectualmente excluídos, para os capacitar nas áreas do património cultural;
c) Criar sinergias entre estes jovens e os espaços culturais para integrar a sua participação como agentes culturais ativos;
d) Lançar um debate local, nacional e internacional sobre este tema envolvendo as instituições sociais e culturais e as Universidades.
e) Criar um Manual de Boas Práticas para inclusão cultural.

O encerramento e a apresentação das conclusões do projeto ocorreu no Museu D. Diogo de Sousa (Braga), no dia 27 de março se 2025.  Dentre estas conclusões salienta-se a publicação do Manual de Boas Práticas, em acesso livre. 

domingo, 29 de junho de 2025

Filosofia, Realidade e Autores Antigos - Palestra na Escola Secundária Martins Sarmento (Guimarães)

No passado dia 03 de junho de 2025 tive a grata oportunidade de apresentar na Escola Secundária Martins Sarmento – Guimarães, uma palestra aos Alunos de turmas do 10º e 12º anos, dedicada ao tema: “A Filosofia como compreensão da realidade. Contributos dos filósofos antigos”.

O contacto e diálogo com os Alunos e com os Colegas presentes no evento constituiu um momento de grande enriquecimento humano, afetivo e intelectual, tendo presente a urgência de cultivarmos e praticarmos a atitude filosófica e a reflexão crítica, num tempo em que os radicalismos e as intolerâncias ameaçam a nossa cultura. Nesta linha, a evocação dos pensadores antigos pode funcionar como um impulso de sensibilização de grande atualidade. 

O interesse pelo tema e por este género de iniciativas também se manifestou no desejo de se  intensificar, já no início do próximo ano letivo, a colaboração entre a Escola Secundária Martins Sarmento e a Faculdade de Filosofia e Ciências Socias (UCP - Braga), em ordem à realização de atividades de cariz filosófico, envolvendo o corpo docente e discente de ambas Instituições.

Por tudo isto, agradecemos penhoradamente à Direção da Escola Secundária Martins Sarmento – Guimarães, nas pessoas das Exmas. Senhoras Diretora, Profª Ana Maria Machado Silva, e Vice Diretora, Prof.ª Ana Isabel Sousa Dias, a oportunidade da realização desta palestra. Agradecimento também particularmente extensível aos Colegas que acompanharam os Alunos durante a palestra - Prof.ª Alexandra Faria, Prof.ª Domitília Sousa, Prof. Eurico Silva. De modo muito especial, um agradecimento ao Prof. Eurico Silva, que generosamente e com enorme competência interagiu nesta iniciativa, desde o primeiro momento.

Escola Secundária Martins Sarmento - Guimarães, 03 de junho de 2025

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Duchamp e Heidegger: quando a coisa se tornou obra de arte

Massimo Carboni, entrevistado no Festival da Filosofia de Modena de 2017 ("As formas do criar"), fala da estética contemporânea. Refere-se a Benedetto Croce como sendo um dos grandes mestres da Estética do Séc. XX, mas de quem não se extraem, imediatamente, grandes instrumentos de análise para a arte de hoje. Já Walter Benjamin, com A Obra de Arte na Época da sua Reprodutibilidade Técnica (1934-36), se devidamente contextualizado -  considera Carboni - é um instrumento fundamental para compreender a arte medial e até mesmo as instalações interativas, em suma, as obras de arte atuais. Relativamente a Martin Heidegger, a opinião de Carboni, é a de que não foi um construtor de uma estética filosófica cujo discurso se amplie; aliás, no seu estudo A origem da Obra de Arte (também de 1934-36), Heidegger distingue entre a coisa e  a obra, entre a coisidade da coisa e obra de arte. Ora, mais de vinte anos antes (em 1913) Marcel Duchamp, pelo contrário, tinha feito de uma coisa uma obra de arte, demonstrando, naquele aspeto específico, que a estética heideggeriana estava já naquele momento superada e que não é mais possível fazer a distinção entre coisa e obra.

Massimo Carboni ensina Estética na Università della Tuscia di Viterbo e na Accademia di Belle Arti di Firenze. Historiador, crítico de arte e teorizador da estética, tem-se ocupado de questões filosóficas que intercetam a pluralidade das expressões artísticas, o estatuto das técnicas e a raiz antropológica das expressões.

Da sua bibliografia:

- L’occhio e la pagina. Tra immagine e parola (Milano 2002);

- Lo stato dell’arte. L’esperienza estetica nell’èra della tecnica (con P. Montani, Roma-Bari 2005);

- La mosca di Dreyer. L’opera della contingenza nelle arti (Milano 2007);

- Di più di tutto. Figure dell’eccesso (Roma 2009);

- Le arti e la tecnica: gli scenari futuri, in Terzo Millennio (Enciclopedia Italiana Treccani, 2010).

in RAI-CULTURA (texto adaptado) 

Ver extrato da entrevista

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O papel da cultura na evangelização

A Mensagem do Evangelho de Jesus Cristo dirige-se universalmente ao ser humano de todos os tempos e latitudes. Porém, a sua perceção, compreensão, interpretação e interiorização por cada pessoa, em particular, ocorre no seio dos distintos contextos de vida, dentre os quais o contexto cultural. Daí que a Igreja venha colocando cada vez mais em evidência a necessidade desta articulação, não só como dinâmica de evangelização da cultura como de inculturação do Evangelho. É toda uma problemática riquíssima, que se traduz no aprofundamento das relações entre a Fé e a Cultura, a Igreja e a Sociedade. 
Nesta linha permitimo-nos discordar do conceito de cultura como um "obstáculo", que transparece no vídeo. Ela deve ser valorizada como contexto fundamental de vida, ou, na linguagem de A. López Quintás, um "âmbito de realidade".


Texto do vídeo aqui

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Pedagogia estética da hospitalidade

 Pode a Experiência Estética conduzir-nos à Hospitalidade?

"Elementos para uma pedagogia estética da hospitalidade" - assim poderia ser o título deste esboço de reflexão, passe a imodéstia da paráfrase.

A quem interessar, cf. intervenção no VII Simpósio Luso-Brasileiro de Estudos de Religião, em 27 jan. 2021 [vídeo a partir de 29:15 + discussão no final]


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Vídeo de Natal da DST

 Vale a pena fixar a atenção neste vídeo de Natal.

Para além do rigor e da perfeição da sua execução técnica, a seleção das imagens sincronizam uma poderosa mensagem: de como os grandes valores transformam a atividade humana, o trabalho mais simples ou mais complexo, a superfície do quotidiano, a rugosidade da matéria, o olhar, o desejo, o símbolo, o horizonte do limite noutra coisa sem a qual, quase tudo faltaria. Claro, os valores dão-nos asas se... verdadeiramente cultivados na vida e no coração de cada um. Acho que é aí que está o segredo desta Empresa. De outro modo, este vídeo de natal não significaria Natal «do Belo, do Bem e da Verdade»!
Gosto mesmo!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A partilha da “Palabre” na Filosofia Africana

No presente semestre, a viagem intelectual proposta aos meus alunos teve como destino África. Precisamente, a Filosofia Africana, na sua problemática caracterização geral e nas suas expressões mais específicas, nos domínios da ética, da arte, da linguagem, da religião, da política... 

Dos muitos conceitos e perspetivas merecedoras de refletida atenção, os filósofos africanos
propõem-nos, no campo social e político, a recuperação de um conceito - que é também uma "praxis" - que tem gerado na turma muito interesse e debate. Trata-se da experiência comunitária da partilha da Palabre/Palavra, a que eles atribuem uma importância notável.

Este termo, e mais especificamente a expressão “l’Arbre à Palabres” (Árvore das palavras), designa o lugar tradicional de reunião, à sombra da qual a comunidade se exprime e ouve a palavra dos mais velhos, discutindo e tomando posição sobre os múltiplos aspetos da vida em sociedade, sobre os problemas da aldeia, sobre a política, uma discussão alargada e em palavras simples. É também o lugar onde as crianças vêm ouvir contar histórias pelo ancião da comunidade. Por extensão, a expressão pode indicar, também, o sítio da aldeia onde se encontrava a tal “árvore das palavras”, geralmente uma árvore de baobá. Noutras latitudes, pode ainda referir o local onde os estudantes se reúnem para discutir a sua vida social e universitária. Do ponto de vista político, "jurídico" e também ético, esta tradição incorpora um significado de fonte da legitimação "democrática" da decisão da comunidade, a raiz ancestral de uma prática de consenso; socialmente simboliza, também, a força humana do grupo de pertença e naturalmente a importância das relações sociais.

Como se percebe, ao exercício desta permuta de palavras é reconhecida uma função comunicativa e fundadora. Muitos filósofos africanos revalorizam esta experiência, por ser fortemente identitária e potenciar o pluralismo típico das sociedades tradicionais, onde o consentimento público é negociado segundo práticas codificadas pela oralidade.

Para além de muitos outros aspetos que tornam este conceito de grande interesse para pensar a sociedade, parece-me possuir grande potencial para tempos de crise, como o que estamos vivendo.

O romance A Árvore das Palavras (1997), da escritora portuguesa Teolinda Gersão dá-nos uma certa imagem e evocação dessa realidade, vivenciada em Moçambique, pouco antes da independência.

Os movimentos “Ondjango” em Angola e “Djemberém” na Guiné Bissau são atuais continuadores das tradições da “Árvore das Palavras”; nesta linha, ver os materiais:

- Podcast “Ondjango, Arminda Fernando Filipe”

- Filme Djemberém ou la hutte du dialogue, Filme de Cinzia d'Auria (2013 - Guinée-Bissau). Realizado pelo grupo Fifito & Bumbulum, um grupo composto por artistas da Guiné-Bissau, dentre eles Filomeno Lopes e pela associação Zoe Onlus. Obra de homenagem às tradições da África Ocidental, onde o «Djemberém» refere a cabana do diálogo, lugar onde, segundo os usos e costumes, os anciãos se reúnem para discutirem e procurar soluções às diversas controvérsias sociais.

Bibliografia complementar

 Fweley Diangitukwa. “La lointaine origine de la gouvernance en Afrique: l’arbre àpalabres” in Revue gouvernance, été 2014.

Ghiggi, Gomercindo; Kavaya, Martinho. “Freire y Ondjango: diálogos con la experienciavital del mundo angoleño”. Recerca: revista de pensament i anàlisi, [en línea], 2009, n.º 9, pp. 103-121.

Sopova, Jasmina. “Arbres à palabreset systèmes occidentaux” in: Le Courrier de l'UNESCO, 52, 5, p. 42.