segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Vídeo de Natal da DST

 Vale a pena fixar a atenção neste vídeo de Natal.

Para além do rigor e da perfeição da sua execução técnica, a seleção das imagens sincronizam uma poderosa mensagem: de como os grandes valores transformam a atividade humana, o trabalho mais simples ou mais complexo, a superfície do quotidiano, a rugosidade da matéria, o olhar, o desejo, o símbolo, o horizonte do limite noutra coisa sem a qual, quase tudo faltaria. Claro, os valores dão-nos asas se... verdadeiramente cultivados na vida e no coração de cada um. Acho que é aí que está o segredo desta Empresa. De outro modo, este vídeo de natal não significaria Natal «do Belo, do Bem e da Verdade»!
Gosto mesmo!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A partilha da “Palabre” na Filosofia Africana

No presente semestre, a viagem intelectual proposta aos meus alunos teve como destino África. Precisamente, a Filosofia Africana, na sua problemática caracterização geral e nas suas expressões mais específicas, nos domínios da ética, da arte, da linguagem, da religião, da política... 

Dos muitos conceitos e perspetivas merecedoras de refletida atenção, os filósofos africanos
propõem-nos, no campo social e político, a recuperação de um conceito - que é também uma "praxis" - que tem gerado na turma muito interesse e debate. Trata-se da experiência comunitária da partilha da Palabre/Palavra, a que eles atribuem uma importância notável.

Este termo, e mais especificamente a expressão “l’Arbre à Palabres” (Árvore das palavras), designa o lugar tradicional de reunião, à sombra da qual a comunidade se exprime e ouve a palavra dos mais velhos, discutindo e tomando posição sobre os múltiplos aspetos da vida em sociedade, sobre os problemas da aldeia, sobre a política, uma discussão alargada e em palavras simples. É também o lugar onde as crianças vêm ouvir contar histórias pelo ancião da comunidade. Por extensão, a expressão pode indicar, também, o sítio da aldeia onde se encontrava a tal “árvore das palavras”, geralmente uma árvore de baobá. Noutras latitudes, pode ainda referir o local onde os estudantes se reúnem para discutir a sua vida social e universitária. Do ponto de vista político, "jurídico" e também ético, esta tradição incorpora um significado de fonte da legitimação "democrática" da decisão da comunidade, a raiz ancestral de uma prática de consenso; socialmente simboliza, também, a força humana do grupo de pertença e naturalmente a importância das relações sociais.

Como se percebe, ao exercício desta permuta de palavras é reconhecida uma função comunicativa e fundadora. Muitos filósofos africanos revalorizam esta experiência, por ser fortemente identitária e potenciar o pluralismo típico das sociedades tradicionais, onde o consentimento público é negociado segundo práticas codificadas pela oralidade.

Para além de muitos outros aspetos que tornam este conceito de grande interesse para pensar a sociedade, parece-me possuir grande potencial para tempos de crise, como o que estamos vivendo.

O romance A Árvore das Palavras (1997), da escritora portuguesa Teolinda Gersão dá-nos uma certa imagem e evocação dessa realidade, vivenciada em Moçambique, pouco antes da independência.

Os movimentos “Ondjango” em Angola e “Djemberém” na Guiné Bissau são atuais continuadores das tradições da “Árvore das Palavras”; nesta linha, ver os materiais:

- Podcast “Ondjango, Arminda Fernando Filipe”

- Filme Djemberém ou la hutte du dialogue, Filme de Cinzia d'Auria (2013 - Guinée-Bissau). Realizado pelo grupo Fifito & Bumbulum, um grupo composto por artistas da Guiné-Bissau, dentre eles Filomeno Lopes e pela associação Zoe Onlus. Obra de homenagem às tradições da África Ocidental, onde o «Djemberém» refere a cabana do diálogo, lugar onde, segundo os usos e costumes, os anciãos se reúnem para discutirem e procurar soluções às diversas controvérsias sociais.

Bibliografia complementar

 Fweley Diangitukwa. “La lointaine origine de la gouvernance en Afrique: l’arbre àpalabres” in Revue gouvernance, été 2014.

Ghiggi, Gomercindo; Kavaya, Martinho. “Freire y Ondjango: diálogos con la experienciavital del mundo angoleño”. Recerca: revista de pensament i anàlisi, [en línea], 2009, n.º 9, pp. 103-121.

Sopova, Jasmina. “Arbres à palabreset systèmes occidentaux” in: Le Courrier de l'UNESCO, 52, 5, p. 42.