sábado, 6 de janeiro de 2018

Conceitos Estéticos // "Da Radicalidade da Experiência Estética"

Acaba de ser publicada (dezembro/2017) a obra “CONCEITOS ESTÉTICOS / CONCEPTOS
ESTÉTICOS”, resultante do II Encontro Ibérico de Estética, organizada pelos professores María José Alcaraz Léon e Vítor Moura, publicada pela Editora Húmus. 
Os Conceitos estéticos, bem como os diferentes problemas relacionados com a natureza da arte desenvolvidos pelos diversos autores estão agrupados em quatro secções: 
- O que é a arte?
- Arte Contemporânea e experiência estética;
- Sujeito da apreciação e sensibilização estética;
- Tempo e memória através da arte.
Tive a honra de colaborar nesta Obra com o estudo intitulado “Da radicalidade da experiência estética” cujo Resumo transcrevo

Este trabalho tem como objetivo relançar o questionamento da experiência estética no seu horizonte de radicalidade. Pretende problematizá-la desde o seu referencial empírico até à inquirição do seu fundamento, legitimando a possibilidade de um “limiar” de transcendência, ou seja, de abertura ao absoluto, a uma “ultimidade” de sentido, ao Ser, arrimada numa verdadeira âncora ontológica e metafísica. A instrumentação metodológica que sustenta a análise e a argumentação pertence à fenomenologia existencial, enquanto articulada com o pensamento hermenêutico e a reflexão ontológica. Pensamos que este aprofundamento se justifica totalmente. É mesmo uma tarefa inadiável trazer de volta ao debate filosófico uma conceção fundacio­nal da experiência da arte e da vivência da beleza, tendo presente o contexto civilizacional no qual estamos mergulhados, enclausurado num relativismo neo-sofistico que invade e mina os alicerces da arte, os critérios do gosto, a essência da beleza, o ideal da formação estética.
Porém, se procuramos abrir uma brecha que nos permita refazer uma noção de experiência estética que tenha condições de progressão desde a feno­menologia para a ontologia e para a metafísica, fazemo-lo na plena preocu­pação de evitar a queda no esquema desgastado de pensar “a partir de cima”. Por isso compreende-se que esta reflexão se nutra do conceito de aisthêsis. A renovação deste conceito, forjado pelos gregos, oferece amplas perspetivas de resposta à estética idealista e normativa que a tradição nos legou, ao mesmo tempo que nos situa perante o fenómeno matricial do qual o pensamento de determinados autores, entre os quais pontua Mikel Dufrenne, jamais se afas­tará – o fenómeno do sentir. Pensar o sentir como fenómeno estético – como experiência estética – significa certamente conetá-lo com os objetos onde ela melhor de concretiza, chamemos-lhes, objetos belos, ou artísticos. Mas significa sobretudo, auscultar a instância, o solo no qual essa experiência lança as suas raízes, e que exigirá a dimensão ontológica e metafísica do “vivido”. “Vivido” que se caracteriza por uma dimensão de abertura que acompanha todas as fases da sua “experienciação”, tornando-a irredutível a qualquer categoria ou parâmetro de análise positivista. Este aspeto é, para nós, a prova de que só a chave interpretativa ontológica e metafísica responde em definitivo, filosofica­mente, ao sentido vivido no interior da experiência estética. É nessa linha que nos propomos, também, construir uma hipótese de leitura do pensamento de Mikel Dufrenne, cuja Obra aqui nos acompanha, ainda que submetendo-a a uma interpretação crítica.
Lancemos, pois, esta arriscada convicção: estamos persuadidos de que a mais decisiva significação para a qual aponta uma sólida estética fenomeno­lógica que pense a experiência da arte e da beleza, já não é a que determina o sentido do Ser através da Natureza, ou do Signo, ou da Linguagem, ou do Desejo, ou do Inconsciente, ou da Estrutura, mas a que projeta ou perspetiva um fundamento ontológico para a própria ideia de Natureza, de Signo, de Linguagem, de Desejo, de Inconsciente, de Estrutura através do Ser: o sentido em cujo desvendamento a estética fenomenológica participa é, em última instância, o sentido do Ser. É na posse da intuição deste “sentido ou direção” que havemos de encontrar a bússola orientadora tão necessária nos labirintos da cultura estética e artística de hoje.

> O índice dos artigos desta obra pode ser consultado aqui.

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